domingo, 15 de maio de 2011

Emmanuel Franco e a Biogeografia do Estado de Sergipe


Resenha do livro "Biogeografia do Estado de Sergipe", de Emmanuel Franco (1919-2008), apresentada por Cleverton Costa Silva durante reunião de estudos do grupo Defensores do Patrimônio Cultural Sergipano no dia 14 de março de 2011.

FRANCO, Emmanuel. Biogeografia do Estado de Sergipe. Aracaju: Segrase, 1983.

Por Cleverton Costa Silva *

Emmanuel Franco (1919-2008) foi engenheiro agrônomo, atuou como Livre Docente em Biogeografia na Universidade Federal de Sergipe (UFS) e professor da antiga Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão (EAFSC), atual Campus de São Cristóvão do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe (IFS). Emmanuel Franco prestou serviço também como agrônomo vinculado ao Ministério Público Federal (MPF) e foi membro da Academia Sergipana de Letras.
 
Sobre Emmanuel Franco, um ex-aluno relata que, desafiado por outro aluno a descobrir qual “patologia” afetava um coqueiro que apresentava um furo em uma de suas folhas, ele atribuiu a causa a um “problema de aluno mal aplicado”. Emmanuel estava certo em sua irônica resposta, pois seu aluno havia queimado a palha do coqueiro com uma ponta de cigarro.
 
Como produtor de conhecimento científico, Franco lançou em 1983 a sua Biogeografia do Estado de Sergipe, obra que descreve os principais aspectos do clima, dos solos, da flora e da fauna sergipana. Na introdução, o professor Murilo Macedo reconhece na obra um caráter interdisciplinar e a vê como um guia de iniciação e planejamento do território sergipano. Macedo recomenda a obra para estudiosos da ecologia, economia agrícola, reflorestamento, agricultura, geografia e, com adaptações, para o uso nas aulas de 1º Grau.
 
É notável o reconhecimento do caráter interdisciplinar na obra lançada em 1983, já que apenas nos últimos anos destes séculos XX e XXI as práticas interdisciplinares estão sendo mais bem difundidas na nossa sociedade. A utilidade da obra extrapola a fronteira delimitada por Murilo Macedo, pois climatologistas, geólogos, historiadores, turismólogos, biólogos, químicos, ambientalistas e diversos outros estudiosos podem se beneficiar deste trabalho de Emmanuel Franco.
 
Biogeografia do Estado de Sergipe peca apenas pela ausência de mapas e fotografias para melhor ilustrar os solos, a flora e a fauna, pois no livro existem apenas mapas com o cenário climático sergipano. A ausência destes elementos dificulta especialmente a compreensão das particularidades do espaço sergipano, já que a pura leitura torna o exercício da compreensão mais cansativo.
 
Sobre o clima sergipano, Franco analisou 24 locais e constatou, por exemplo, que Porto da Folha (Sede) e Ilha do Ouro (povoado), situados no mesmo município de Porto da Folha, têm níveis de chuvas diferentes. A Ilha do Ouro fica a cerca de 7km de Porto da Folha e à beira do rio São Francisco, mas tem menor pluviosidade, sendo até mesmo mais seco que muitas regiões do Ceará, onde as secas chegam a níveis extremos de aridez. É relatado ainda que as massas de ar que ocorrem em Sergipe são três: a Massa Equatorial, que ocorre em abril, maio e junho, soprando de oeste para leste; a Massa Polar, em julho; e a massa Tropical, em novembro, que sopra de sudeste para nordeste.
 
Os solos sergipanos apresentam configurações diversas. Devido à pluviosidade e proximidade com o mar, os solos de regiões úmidas se localizam mais ao litoral, enquanto os de regiões áridas se localizam mais para o interior. No litoral, alguns solos são os indiscriminados de mangue, ricos em sais minerais e matéria orgânica depositados pelas marés; os orgânicos, localizados em várzeas, charcos e pântanos; gley húmico, que ocorre em pontos das bacias dos rios São Francisco, Sergipe e Piaui, onde se cultiva arroz, extrai-se o barro e o utiliza como área de pastagem.
 
Ainda no litoral, outros solos condicionam importantes culturas em Sergipe, a exemplo do podzólico vermelho-amarelo e derivados, onde se cultivam a cana-de-açúcar, mandioca, feijão, milho, coco, caju e mangaba. Vale destacar, pela importância da cana-de-açúcar para a economia sergipana, o conjunto de solos que resulta no solo de massapê: o vertisol, o brunizem avermelhado e a rendzina. Estes solos são abundantes na microbacia do rio Cotinguiba e deles se originaram a riqueza e importância da região, influenciando até em decisões como a da construção de Aracaju, atual Capital de Sergipe.
 
Nas regiões áridas, os solos apresentam menor variação. O solonetz solodizado, no vale do rio Real, é utilizado para a pecuária extensiva, a cultura do milho, feijão, algodão e mandioca, sendo pouco aproveitável economicamente. O bruno não-cálcico fica a noroeste do Estado, nele se cultivam também milho, feijão, algodão e capins forrageiros e a sua vegetação é de caatinga. Nas regiões banhadas pelo São Francisco, predominam os solos de regosol e associados, arenosos e com presença de cascalho. A vegetação e a cultura agrícola são semelhantes às outras regiões áridas.
 
Ao abordar a vegetação, Franco explana didaticamente a distinção entre formações perenifólias (espécies vegetais que nunca perdem as suas folhas) e caducifólias (aquelas que apresentam queda das folhas ou espinhos como estratégias para a retenção de água), havendo também espécies mistas. Franco apresenta ainda a distribuição da vegetação ao longo do território sergipano.
 
No litoral, espécies vegetais predominantemente perenifólias se desenvolvem no manguezal, na floresta atlântica, em praias e dunas, em campos e matas de restinga e de várzea. Estes ambientes já estavam seriamente ameaçados pelas intervenções antrópicas, a exemplo do uso do manguezal para a construção civil e como combustível. Acerca da mata atlântica, Franco previu o seu total desaparecimento até o ano 2000. Em pleno ano de 2011, as previsões do autor não se concretizaram, mas o seu diagnóstico pessimista não está muito distante da realidade.
 
Nos demais ambientes litorâneos, algumas espécies vegetais chamam a atenção. Nos campos de restinga, os facheiros e cabeças-de-frade da caatinga se apresentam como espécies adaptadas. No decorrer da atividade açucareira, os engenhos aproveitavam a lenha extraída da mata atlântica. Nos engenhos, o bambu trazido da Índia também alimentava os fornos, enquanto os troncos de aroeiras e itapicurus serviam como esteios.
 
Na transição entre floresta atlântica e caatinga, encontram-se os domínios do cerrado sergipano, englobando principalmente as serras de Itabaiana, Comprida, Ribeira e outras do Domo de Itabaiana. Deste ambiente híbrido resultam espécies resistentes ao fogo (pirófitas). No cerrado, são encontradas mangabeiras, cajueiros, ouricurizeiros, mandacarus, etc. Do cerrado surgem variações como: campo cerrado, com moitas e pequenos bosques; mata galeria, com grotas e riachos; e o agreste, quando os arbustos predominam sobre as árvores.
 
Franco dedica atenciosa análise à flora da caatinga, classificando-a em hipoxerófila (“Boca da Caatinga”) e hiperxerófila (onde ocorre clima mais seco). A análise da caatinga destaca os usos de algumas espécies vegetais pelos sertanejos, a exemplo do umbuzeiro e os seus suculentos frutos, da braúna com a qual se fazem cancelas e currais, das cascas do angico de onde se tiram os corantes para o beneficiamento do couro, e também da craibeira, que chega a atingir 15m e se encontra às margens de rios, de onde se tira a madeira para as prensas das casas de farinha e as rodas dos carros de boi.
 
Último ponto abordado na obra, a fauna (aquática, aérea e terrestre) é apresentada ao longo dos ambientes que integram o território sergipano. Dos mangues com uçás, siris, aratus e outras espécies, passando por aves apreciadas nos céus ou gaiolas como o caboclinho, curió, cabeça e beija-flor. Nos campos e matas são citados os sapos, capivaras, socós, tatus, guigós, teiús, gaviões, abelhas, onças, bagres e outras espécies que enriquecem a obra.
 
Não obstante a rica descrição da biogeografia sergipana, Emmanuel Franco aponta para a necessidade de se criar e manter em Sergipe Reservas Biológicas (ReBio). O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), estabelecido pela Lei 9985/2000, abriu espaço tanto para ReBios quanto para outras unidades de conservação em Sergipe, a exemplo da ReBio Santa Izabel (Pirambu), Floresta Nacional do Ibura (N. Sra. Do Socorro), Parque Nacional Serra de Itabaiana (Areia Branca/Itabaiana), Área de Proteção Ambiental Morro do Urubu (Aracaju) e Litoral Norte (Barra dos Coqueiros a Brejo Grande), Refúgio da Vida Silvestre Mata do Junco (Capela), Monumento Natural Grota do Angico (Poço Redondo) e Reserva Particular do Patrimônio Natural do Caju (Itaporanga D’Ajuda). Atualmente, estas unidades de conservação são as principais trincheiras da luta pela defesa de todas as formas de vida em Sergipe, e a Biogeografia do Estado de Sergipe é um guia essencial para este fim. 

* Guia de Turismo e Tecnólogo em Gestão de Turismo pelo Instituto Federal de Sergipe; Especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior pela Faculdade São Luis de França - clevertonsilva@gmail.com.

Um comentário:

  1. MEU NOME: ACHILES FRANCO, SOU FILHO DE JOSÉ FRANCO SOBRINHO.( SERGIPANO ). MEU AVÔ: ACHILES DE BARROS PIMENTEL FRANCO.( SERGIPANO ). MEU BISAVÔ: JOSÉ DE BARROS PIMENTEL FRANCO.( SERGIPANO ). TENHO ORGULHO EM FAZER PARTE DESTA TÃO IMPORTANTE FAMÍLIA.
    GOSTARIA SE POSSÍVEL RETOMAR CONTATO COM OS DEMAIS FAMILIARES.
    EMAIL: achiles.franco@gmail.com
    fone: ( 081 ) 96583000 / 86011191 / 81352272

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