terça-feira, 14 de junho de 2011

‘Acorda, São João !’: Festejos Juninos em Sergipe no Século XIX

Artigo apresentado durante reunião de estudos do grupo Defensores do Patrimônio Cultural Sergipano no dia 12 de junho de 2011. Originalmente publicada em: Jornal da Cidade, n. 9.593, 23 de junho de 2004. Caderno B, p. 06.

Por Amâncio Cardoso dos Santos Neto *

“E as fogueiras do terreiro vomitavam grossas labaredas; (...);
e as girândolas, as bombas, as ronqueiras estrugiam aos – Viva S. João!”.

MORAES FILHO, Alexandre José de Melo (1843-1919). A véspera de S. João.
Festas e Tradições Populares do Brasil. Brasília: 
Senado Federal, 2002. p. 103. (1ª edição c. 1895).


Os festejos juninos têm lugar sagrado no calendário popular. No entanto, a tradição do culto ao santo Batista tem um sentido tanto profano quanto religioso. Deste modo, a festa é regada não somente a novenas, procissões e missas; mas também a bebidas, comidas, músicas, danças, fogos e brinquedos. Além disso, as comemorações juninas fazem parte de nossas velhas usanças. É um legado trazido da Península Ibérica, onde o culto a São João é um dos mais antigos e populares (1).  Em 1583, no Brasil colônia, o jesuíta Fernão Cardim (1540 ?-1625) anota que ‘as fogueiras de São João’ são os festejos mais apreciados pelos indígenas cristianizados (2).  Passados os anos, conforme testemunhos do século XIX, os sergipanos continuavam cultuando o São João de forma intensa e variada. 

Em Aracaju, no ano de 1893, um jornal anunciou que a festa junina fora animada, pois a população armara fogueiras em penca, comera manauês e milho verde aos cachos; canjica aos alqueires e bebera vinhos em quantidade. Além de arrasta-pés e fogos de salão ‘para glorificar o Santo Batista’. (3)

Misturadas ao aspecto lúdico, solenidades religiosas afloravam da população que ornavam as paróquias, sobretudo as do interior. Em 1896, na cidade de Maruim, o povaréu rezou na Igreja Matriz as novenas de São João e no dia 24 celebrou missa solene. À tarde, ‘percorreu toda a cidade concorrida e animada procissão’. (4) Paralelo a isto, os maruinenses mantinham antigos costumes de acender fogueira em cada casa e fincar um mastro ‘em frente da porta’. Para colorir a festa, foguetes e busca-pés em abundância. À noite, na porta da Matriz, conforme um cronista de Maruim, ainda em 1896, um certo foguista alcunhado por ‘Zé Bonecra’ (assim grafado) foi objeto de galhofa da molecada. Suas girândolas (roda em que se reúnem foguetes que sobem e estouram simultaneamente) não subiam e a criançada então ‘distinguiu-o com bonita vaia’. (5)

Com a grande demanda por fogos de artifício, alguns comerciantes aproveitavam o período para diversificar suas vendas e aumentar seus proventos. Os reclamos (como se chamavam à época as publicidades em jornais) eram anunciados, algumas vezes, com singelos poemas de apelo à clientela: ‘Sem fogos não há São João/ Tomem nota do que aí fica,/ Os fogos são, com certeza,/ A canela da canjica’. Dizia a quadra do empório A Veneza de Aracaju, que estreou neste filão abrindo uma seção pirotécnica no ano de 1896. Ele oferecia aos festeiros uma variedade esfuziante de fogos nacionais, franceses e chineses. (6)


O mesmo ocorria na loja A Providencial situada na antiga rua da Cancela (atual General Siqueira) em Maruim, que também vendia fogos nacionais e estrangeiros ao lado de ‘fazendas, miudezas e molhados’. (7) Outros negociantes, mais especuladores, ofereciam ‘foguetes de assovio com pequeno defeito’ por preço inferior, mas expondo o usuário a graves acidentes. Este foi o caso do comerciante Gothardo de Araújo, estabelecido na cidade de Rosário do Catete, em 1897. (8)

No ano anterior, o São João de Maruim fora animado por fogos em abundância. Na véspera, as ruas do Assovio (atual Barão do Rio Branco) e Cancela (hoje General Siqueira) arderam por ‘horas de fogo cerrado’. No dia 24, as ruas estavam ‘vistosamente’ enfeitadas, sobressaindo as da Cancela e Cabula (atual Dr. Fausto Cardoso). Além da ornamentação, as ruas de Maruim ganharam iluminação e música. (9) A cidade era uma festa.

Entretanto, passada a folgança, o cotidiano na província sergipense voltava à rotina. Muitos festeiros retornavam à labuta diária ‘enfadados pelas vigílias e perdas de noites’; escreveu um articulista de Aracaju em 1879. (10) Porém, outros não voltavam ao trabalho, pois haviam sido feridos por queimaduras nas espetaculares guerras de busca-pé.   

Aliás, acidentes com fogos de artifício, como explosões, incêndios e queimaduras fazem parte de nossas festas de São João desde há muito. Eles são tão tradicionais quanto as comemorações.

Em 1896, foi notícia de primeira página do jornal O Progresso um incêndio na noite de 23 de junho, provocado pelo estouro de um busca-pé na porta da residência de Luiz Antônio de França, o Luiz de Simão Dias, fogueteiro em Maruim instalado na rua Aquidabã (atual Getúlio Vargas). Segundo a nota, as faíscas do foguete teriam passado por baixo da porta e atingido o chão ‘juncado de restos de pólvora’, alastrando-se subitamente um incêndio ‘em todo o fogo de artifício que estava preparado’. Eram 130 (cento e trinta) dúzias de foguetes do ar, centenas de bombas, latas e barris com pólvora e todo material de fabrico. O Luiz fogueteiro estava dormindo na hora do incidente. Sua esposa despertou-o, ainda acordada embalando o filho. Os três escaparam ‘milagrosamente sem a mais leve queimadura’. Muitos habitantes correram ao local para ajudar na extinção das labaredas. A polícia chegou em seguida. O articulista d’O Progresso finalizou com um misto de surpresa e indignação. Ele escreveu que não sabia ‘como se consente uma tenda de fogueteiro, no centro da cidade.’ (11) Sobre este assunto, até hoje, as autoridades competentes não nos deram uma resposta satisfatória.

Já em Aracaju, na segunda metade do século XIX, quando parte significativa da população habitava em casas de palha, os incêndios eram mais constantes. Em 1873, por exemplo, uma semana antes do dia de São João, dez casebres foram queimados por foguetes na localidade da Aroeira. O Jornal A Liberdade questionou o que seria ‘da pobreza que se abriga nas casas de palha’ se a Câmara municipal e a polícia continuassem a permitir ‘tão prejudicial divertimento’.  (12)

Nas décadas seguintes daquele século tentou-se refrear as guerras de fogos, mas as autoridades policiais pareciam ser impotentes diante da ‘loucura da população’. Um jornal aracajuano, em 1882, julgou como selvageria o divertimento dos que se regozijavam diante da confusão de foguetes, cujas chamas ardiam sobre casas e feridos. As reclamações dos atingidos ‘ameaçavam degenerar em desordem’; denunciava o periódico. (13)

No ano de 1893, ainda em Aracaju, noticiou-se que a força policial já havia entrado em atividade antes mesmo da noite junina, no intuito de ‘evitar o prejudicial folguedo de busca-pés e tiros de canhoto [espécie de pistola]’. Porém, alguns refratários ao cumprimento da ordem policial queriam ‘ostensivamente violá-la’, asseverou o testemunho. (14)

Dois dias depois, a mesma gazeta da capital registrou que policiais invadiram uma casa na rua de São Cristóvão, ‘afim de arrancar uma criança que estava soltando traques’. (15) Os excessos, segundo as fontes, partiam de ambos os lados: tanto de alguns foguistas quanto do poder de polícia.

No século XIX, a ordem vigente entre as elites dirigentes era a contenção das paixões, dos excessos do espírito. A saúde da sociedade estaria nos gestos morigerados dos indivíduos, na contenção, na disciplina e na obediência às leis, conforme idéia difundida por aquele estrato social. Com isto, se estabeleceriam as vias para a “civilização” nos moldes dos valores burgueses da Europa ocidental.

Contudo, a tradição parecia ter mais força que a repressão. Desrespeitavam-se até autoridades constituídas. Foi o caso de um Juiz de Maruim no atribulado São João de 1896. Ele foi perseguido por uma taquara que o fez manter-se numa posição ‘pouco decente até a diaba estourar’, ridicularizou um cronista local. (16)


As queimaduras com fogos eram tão recorrentes que em 1889, nas antevésperas do São João, um jornal de Propriá oferecia uma receita para as de 1º e 2º graus à base de compressas de vinagre, água, éter sulfúrico, geléia de groselhas ou mel ralo, e água com sal de cozinha em solução. (17) Nas festas juninas a alegria se misturava com o sofrimento e a dor.

Não obstante os riscos físicos, nas noites de São João também havia espaço para a pilhéria. A zombaria era temperada com a ironia. Geralmente eram rixas e reclamações entre vizinhos enviadas pelos jornais em forma de versos. Isto ocorreu em 1873, por exemplo, numa “publicação a pedido” intitulada “Resposta dos moradores da rua de Santo Amaro ao Canjica”. Eis as quadras:

1-‘Vinde, vinde meu Canjica
Com coragem e honradez
Que aqui vos esperamos
Com bom milho e manauês

2-Se quereis vir combater
Em a noite de São João,
Deve vir bem temperado,
Cosido n’um panelão.

3-Foguetes, traques e bombas
Estragam muito as panelas,
Ficaremos sem canjica
Se quebrarem todas elas.

4-Os moradores da rua
D’antiga Independência
Tem por glória nesses dias
Exercer grande influência.

5-Viva a noite de São João
Vivam todos os festeiros
Viva a canjica bem frita
Vivam todos paneleiros’.  (18)

Em nossas comemorações juninas permanecem alguns traços dos antigos festejos, tais como casamentos na roça, crendices, prendas, missas, procissões, danças, músicas e comidas. Quanto aos fogos, mastros e fogueiras, que eles continuem e sirvam para anunciar o nascimento do Batista por sua mãe, Santa Isabel, à Nossa Senhora, mãe de Jesus, como reza a lenda. E assim, oxalá todos estes santos protejam tanto os que fabricam foguetório quanto os que festejam nas noites faiscantes das guerras de busca-pés.

Diante do que foi visto, percebe-se que a tradição junina constitui, de forma arraigada, a cultura sergipana. Ela é um símbolo de nossa identidade entranhada na alma de nosso povo. Portanto, se faz necessário que a população e os órgãos públicos responsáveis pelas políticas culturais a mantenham, evitando sua extinção. Acorda, São João! Viva, São João!


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NOTAS:

* Mestre em História Social pela Universidade Estadual de Campinas; Graduado em História e Especialista em Geografia Agrária pela Universidade Federal de Sergipe; Professor do Instituto Federal de Sergipe - acneto@infonet.com.br.

(1) CASCUDO, Luís da Câmara (1898-1986). Verbete: São João. Dicionário do folclore brasileiro. 9. ed. São Paulo: Global, 2000. p. 298.

(2) CARDIM, Fernão. Narrativa Epistolar de uma viagem e missão jesuítica. Tratados da terra e gente do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia/São Paulo: Edusp, 1980. p. 156.

(3) Gazetilha - São João. O Município. Aracaju, 23 de junho de 1893, ano 1, n. 31. p. 01. Todas as fontes deste artigo foram pesquisadas nos CD-ROM’s números 3, 4, 5 e 8 do Sistema Informatizado de Memória Histórica de Sergipe-SIMH, editados pela Secretaria de Estado da Cultura a partir de microfilmes da Biblioteca Nacional.

(4) Festa. O Progresso. Maruim, 28 de junho de 1896, ano 1, n. 40. p. 02.

(5) K. Listo. Chronica Semanal. O Progresso. Maruim, 28 de junho de 1896, ano 1, n. 40. p. 03.

(6) Annuncios. O Progresso. Maruim, 14 de junho de 1896, ano 1, n. 38. p. 04.

(7) Idem, ibidem.

(8) Annuncios – Foguetes de assovio. O Progresso. Maruim, 13 de junho de 1897, ano 2, n. 87. p. 03.

(9) O Progresso. Maruim, 28 de junho de 1896, ano 1, n. 40. p. 01.

(10) Gazetilha – Festa de S. João. Jornal de Sergipe. Aracaju, 25 de junho de 1879, ano XIV, n. 68. p. 03.

(11) Incêndio. O Progresso. Maruim, 28 de junho de 1896, ano 1, n. 40. p. 01.

(12) Gazetilha - Incêndio. A Liberdade. Aracaju, 21 de junho de 1873, ano 1, n. 17. p. 01.

(13) Selvageria. Sergipe Jornal. Aracaju, 28 de junho de 1882, ano 1, n. 94. p. 03.

(14) Gazetilha. O Município. Aracaju, 21 de junho de 1893, ano 1, n. 30. p. 01.

(15) Gazetilha – São João. O Município. Aracaju, 23 de junho de 1893, ano 1, n. 31. p. 01.

(16) K. Listo. Chronica Semanal. O Progresso. Maruim, 28 de junho de 1896, ano 1, n. 40. p. 03.

(17) Contra Queimaduras. São Francisco. Propriá, 20 de junho de 1889, ano 1, n. 18. p. 03.

(18) Jornal de Aracaju. 26 de junho de 1873, ano 4, n. 387. p. 04.

domingo, 15 de maio de 2011

Emmanuel Franco e a Biogeografia do Estado de Sergipe


Resenha do livro "Biogeografia do Estado de Sergipe", de Emmanuel Franco (1919-2008), apresentada por Cleverton Costa Silva durante reunião de estudos do grupo Defensores do Patrimônio Cultural Sergipano no dia 14 de março de 2011.

FRANCO, Emmanuel. Biogeografia do Estado de Sergipe. Aracaju: Segrase, 1983.

Por Cleverton Costa Silva *

Emmanuel Franco (1919-2008) foi engenheiro agrônomo, atuou como Livre Docente em Biogeografia na Universidade Federal de Sergipe (UFS) e professor da antiga Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão (EAFSC), atual Campus de São Cristóvão do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe (IFS). Emmanuel Franco prestou serviço também como agrônomo vinculado ao Ministério Público Federal (MPF) e foi membro da Academia Sergipana de Letras.
 
Sobre Emmanuel Franco, um ex-aluno relata que, desafiado por outro aluno a descobrir qual “patologia” afetava um coqueiro que apresentava um furo em uma de suas folhas, ele atribuiu a causa a um “problema de aluno mal aplicado”. Emmanuel estava certo em sua irônica resposta, pois seu aluno havia queimado a palha do coqueiro com uma ponta de cigarro.
 
Como produtor de conhecimento científico, Franco lançou em 1983 a sua Biogeografia do Estado de Sergipe, obra que descreve os principais aspectos do clima, dos solos, da flora e da fauna sergipana. Na introdução, o professor Murilo Macedo reconhece na obra um caráter interdisciplinar e a vê como um guia de iniciação e planejamento do território sergipano. Macedo recomenda a obra para estudiosos da ecologia, economia agrícola, reflorestamento, agricultura, geografia e, com adaptações, para o uso nas aulas de 1º Grau.
 
É notável o reconhecimento do caráter interdisciplinar na obra lançada em 1983, já que apenas nos últimos anos destes séculos XX e XXI as práticas interdisciplinares estão sendo mais bem difundidas na nossa sociedade. A utilidade da obra extrapola a fronteira delimitada por Murilo Macedo, pois climatologistas, geólogos, historiadores, turismólogos, biólogos, químicos, ambientalistas e diversos outros estudiosos podem se beneficiar deste trabalho de Emmanuel Franco.
 
Biogeografia do Estado de Sergipe peca apenas pela ausência de mapas e fotografias para melhor ilustrar os solos, a flora e a fauna, pois no livro existem apenas mapas com o cenário climático sergipano. A ausência destes elementos dificulta especialmente a compreensão das particularidades do espaço sergipano, já que a pura leitura torna o exercício da compreensão mais cansativo.
 
Sobre o clima sergipano, Franco analisou 24 locais e constatou, por exemplo, que Porto da Folha (Sede) e Ilha do Ouro (povoado), situados no mesmo município de Porto da Folha, têm níveis de chuvas diferentes. A Ilha do Ouro fica a cerca de 7km de Porto da Folha e à beira do rio São Francisco, mas tem menor pluviosidade, sendo até mesmo mais seco que muitas regiões do Ceará, onde as secas chegam a níveis extremos de aridez. É relatado ainda que as massas de ar que ocorrem em Sergipe são três: a Massa Equatorial, que ocorre em abril, maio e junho, soprando de oeste para leste; a Massa Polar, em julho; e a massa Tropical, em novembro, que sopra de sudeste para nordeste.
 
Os solos sergipanos apresentam configurações diversas. Devido à pluviosidade e proximidade com o mar, os solos de regiões úmidas se localizam mais ao litoral, enquanto os de regiões áridas se localizam mais para o interior. No litoral, alguns solos são os indiscriminados de mangue, ricos em sais minerais e matéria orgânica depositados pelas marés; os orgânicos, localizados em várzeas, charcos e pântanos; gley húmico, que ocorre em pontos das bacias dos rios São Francisco, Sergipe e Piaui, onde se cultiva arroz, extrai-se o barro e o utiliza como área de pastagem.
 
Ainda no litoral, outros solos condicionam importantes culturas em Sergipe, a exemplo do podzólico vermelho-amarelo e derivados, onde se cultivam a cana-de-açúcar, mandioca, feijão, milho, coco, caju e mangaba. Vale destacar, pela importância da cana-de-açúcar para a economia sergipana, o conjunto de solos que resulta no solo de massapê: o vertisol, o brunizem avermelhado e a rendzina. Estes solos são abundantes na microbacia do rio Cotinguiba e deles se originaram a riqueza e importância da região, influenciando até em decisões como a da construção de Aracaju, atual Capital de Sergipe.
 
Nas regiões áridas, os solos apresentam menor variação. O solonetz solodizado, no vale do rio Real, é utilizado para a pecuária extensiva, a cultura do milho, feijão, algodão e mandioca, sendo pouco aproveitável economicamente. O bruno não-cálcico fica a noroeste do Estado, nele se cultivam também milho, feijão, algodão e capins forrageiros e a sua vegetação é de caatinga. Nas regiões banhadas pelo São Francisco, predominam os solos de regosol e associados, arenosos e com presença de cascalho. A vegetação e a cultura agrícola são semelhantes às outras regiões áridas.
 
Ao abordar a vegetação, Franco explana didaticamente a distinção entre formações perenifólias (espécies vegetais que nunca perdem as suas folhas) e caducifólias (aquelas que apresentam queda das folhas ou espinhos como estratégias para a retenção de água), havendo também espécies mistas. Franco apresenta ainda a distribuição da vegetação ao longo do território sergipano.
 
No litoral, espécies vegetais predominantemente perenifólias se desenvolvem no manguezal, na floresta atlântica, em praias e dunas, em campos e matas de restinga e de várzea. Estes ambientes já estavam seriamente ameaçados pelas intervenções antrópicas, a exemplo do uso do manguezal para a construção civil e como combustível. Acerca da mata atlântica, Franco previu o seu total desaparecimento até o ano 2000. Em pleno ano de 2011, as previsões do autor não se concretizaram, mas o seu diagnóstico pessimista não está muito distante da realidade.
 
Nos demais ambientes litorâneos, algumas espécies vegetais chamam a atenção. Nos campos de restinga, os facheiros e cabeças-de-frade da caatinga se apresentam como espécies adaptadas. No decorrer da atividade açucareira, os engenhos aproveitavam a lenha extraída da mata atlântica. Nos engenhos, o bambu trazido da Índia também alimentava os fornos, enquanto os troncos de aroeiras e itapicurus serviam como esteios.
 
Na transição entre floresta atlântica e caatinga, encontram-se os domínios do cerrado sergipano, englobando principalmente as serras de Itabaiana, Comprida, Ribeira e outras do Domo de Itabaiana. Deste ambiente híbrido resultam espécies resistentes ao fogo (pirófitas). No cerrado, são encontradas mangabeiras, cajueiros, ouricurizeiros, mandacarus, etc. Do cerrado surgem variações como: campo cerrado, com moitas e pequenos bosques; mata galeria, com grotas e riachos; e o agreste, quando os arbustos predominam sobre as árvores.
 
Franco dedica atenciosa análise à flora da caatinga, classificando-a em hipoxerófila (“Boca da Caatinga”) e hiperxerófila (onde ocorre clima mais seco). A análise da caatinga destaca os usos de algumas espécies vegetais pelos sertanejos, a exemplo do umbuzeiro e os seus suculentos frutos, da braúna com a qual se fazem cancelas e currais, das cascas do angico de onde se tiram os corantes para o beneficiamento do couro, e também da craibeira, que chega a atingir 15m e se encontra às margens de rios, de onde se tira a madeira para as prensas das casas de farinha e as rodas dos carros de boi.
 
Último ponto abordado na obra, a fauna (aquática, aérea e terrestre) é apresentada ao longo dos ambientes que integram o território sergipano. Dos mangues com uçás, siris, aratus e outras espécies, passando por aves apreciadas nos céus ou gaiolas como o caboclinho, curió, cabeça e beija-flor. Nos campos e matas são citados os sapos, capivaras, socós, tatus, guigós, teiús, gaviões, abelhas, onças, bagres e outras espécies que enriquecem a obra.
 
Não obstante a rica descrição da biogeografia sergipana, Emmanuel Franco aponta para a necessidade de se criar e manter em Sergipe Reservas Biológicas (ReBio). O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), estabelecido pela Lei 9985/2000, abriu espaço tanto para ReBios quanto para outras unidades de conservação em Sergipe, a exemplo da ReBio Santa Izabel (Pirambu), Floresta Nacional do Ibura (N. Sra. Do Socorro), Parque Nacional Serra de Itabaiana (Areia Branca/Itabaiana), Área de Proteção Ambiental Morro do Urubu (Aracaju) e Litoral Norte (Barra dos Coqueiros a Brejo Grande), Refúgio da Vida Silvestre Mata do Junco (Capela), Monumento Natural Grota do Angico (Poço Redondo) e Reserva Particular do Patrimônio Natural do Caju (Itaporanga D’Ajuda). Atualmente, estas unidades de conservação são as principais trincheiras da luta pela defesa de todas as formas de vida em Sergipe, e a Biogeografia do Estado de Sergipe é um guia essencial para este fim. 

* Guia de Turismo e Tecnólogo em Gestão de Turismo pelo Instituto Federal de Sergipe; Especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior pela Faculdade São Luis de França - clevertonsilva@gmail.com.

domingo, 10 de abril de 2011

Preciosas Brefáias do Folclore Sergipano

Edição de 1967.
Resenha do livro "Brefáias e Burundangas do Folclore Sergipano", de José de Carvalho Déda (1898-1968), apresentada por Amâncio Cardoso dos Santos Neto durante reunião de estudos do grupo Defensores do Patrimônio Cultural Sergipano no dia 10 de abril de 2011. Originalmente publicada em: Aracaju Magazine, Aracaju, ago. 2002, p. 18-19.

DÉDA, José de Carvalho. Brefáias e Burundangas do Folclore Sergipano. Aracaju, Livraria Regina, 1967.

Por Amâncio Cardoso dos Santos Neto *
e Francisco José Alves **

Há algumas semanas, foi lançada a segunda edição de Brefáias e Burundangas do Folclore Sergipano (Maceió: Edições Catavento, 2001. 252 p.) de José de Carvalho Déda (1898-1968). A primeira edição foi em 1967 (Aracaju, Livraria Regina). A atual foi organizada e anotada pelo jornalista e folclorista Luiz Antônio Barreto, sob os auspícios, em boa hora, do Instituto Tancredo Neves/Sergipe.
 
O magistrado Carvalho Déda era um profundo conhecedor da cultura sergipana. Ele ouvia, vivenciava e anotava os fatos do acervo do saber popular. Apesar de ser natural de Paripiranga/BA, foi em Simão Dias que saboreou e coletou as preciosidades do folclore local. Além disto, percorreu vários municípios em busca de seu objeto de pesquisa. Ele foi, em verdade, um garimpeiro de nossa cultura popular. Fez parte de uma geração de folcloristas que produziram estudos a partir da década de 40 e 50 do século XX, tais como Mário Cabral; Paulo de Carvalho-Neto; José Calasans (1915-2001) e Felte Bezerra (1908-1990).
 
Edição de 2008.
Brefáias e Burundangas é composto por 36 (trinta e seis) entradas de assuntos. O material enfeixado pelo folclorista transita no plano das crenças e superstições (a reza da cabra preta, as “promessas”, a figura do diabo, as Luzernas, o lobisomem, as encomendações das almas, ...); no dos usos e costumes (os velórios, os apelidos, os juramentos, as épocas e as datas, preconceitos de honra, modéstias e exageros, ...); no da linguagem popular (as vozes dos animais, provérbios, linguagem dos caminhões, ...); no plano da lúdica (o reisado, o parafuso, as argolinhas, o quebra-pote, o pau de sebo, o “judas”, o “casamento de cavalo”, o folguedo de São Gonçalo, a víspora, os “trancalínguas”, o “gato e o rato”, ...); no das artes e das técnicas (remédios, “batalhões” ou “trabalhadas”, caçadas e armadilhas, ...); no da música (trovas, repentes e desafios); no da literatura oral (o burro carregado de louça, a mulher do piolho, o papa-hóstia e a freguesona, uma estória de formiga, o milho de “Bita”, a sogra de Cristo, as galinhas do vigário, etc.).       
 
A obra de Carvalho Déda é uma miríade de usos e costumes do nosso povo. Alguns deles até desaparecidos. É o caso da Festa do Barricão, assim descrita por Carvalho Déda: “puxando um desordenado préstito pelas ruas da localidade, ia uma carroça com uma enorme barrica, dentro da qual um mascarado, em trajes femininos, cantava versos alusivos ao celibato, que eram respondidos, em coro, pelos acompanhantes ao som da sanfona e reco-reco. Ao passar por uma casa [onde] havia uma solteirona, o carro parava e o mascarado do barricão se exibia com exagero, fingindo um angustioso pranto de vitalina.” (p. 119). A Festa do Barricão, muito em voga no interior de Sergipe até o final do século XIX e início do XX, teria sido relegada, segundo o autor, devido às irreverências das cantorias que feriam a sensibilidade das vitalinas, criando casos de polícia.
 
Carvalho Déda presta homenagem aos trovadores João Canário e “Sá” Martinha, também esquecidos, conforme ele, pela memória sergipana.
 
João Canário, natural de Itabaina/SE, faz parte da infância profunda do autor que ficava “horas e horas, esquecido do mundo, escutando o velho cantador.” (p. 151). Canário era cego e tinha desgosto por não saber tocar viola. Cantava ao som de um “querequexé” de folhas de flandres. Ele era perfeito na rima, no repente e nos “desafios”. Fazia suas funções nas feiras do interior guiado por um menino ativo, apelidado por Caboco Liso, que era os olhos do cego. Boêmio incorrigível, morreu na miséria e “esquecido dos sergipanos !”, lastima Carvalho Déda (p. 150).
 
A trovadora “Sá” Martinha do Sabão não cantava em feiras, somente em sua casa ou na dos amigos, e sempre “sob as vistas do pacato esposo.” (p. 151). Fora bonita; perdera uma vista e, tempos depois, nascera e crescera-lhe um bócio. A maledicência popular alcunhara-a de Martinha do papão, humilhando e azucrinando a cantadora. Conta-se que por ter perdido um desafio para um poeta “carapinha” ou de cor negra, ela deixara de cantar. A assistência de moças brancas e preconceituosas do sertão sergipano viu a trovadora perder nos versos para o “pachola pixaim”. E nunca mais se repetiriam “as tertúlias na bucólica casinha do Sabão.” (p. 154).      
   
O livro de Carvalho Déda é um repositório sentimental e valioso das manifestações populares sergipanas. Esta característica foi reconhecida por uma sumidade nos estudos do folclore nacional, Luiz da Câmara Cascudo (1898-1986). Ele escreveu, em 1965, uma “Apreciação” sobre Brefáias e Burundangas que na atual edição foi posta pelo organizador como “Fortuna Crítica”, acompanhada pelo texto “Folclore sergipano” do antropólogo Felte Bezerra (1908-1990), também constante da 1ª edição.
 
Brefáias e Burundangas é encerrado por uma espécie de apêndice. Falo do registro de 809 (oitocentos e nove) provérbios populares e um glossário com 957 (novecentos e cinqüenta e sete) vocábulos. Uma espécie de sergipanês, como escreveu o apresentador da obra, Luiz Antônio Barreto.
 
Neste vocabulário, é curiosa, dentre outras coisas, a variedade de referência ao ânus ou região anal. Tais variações demonstram, entre o povo, o quanto esta parte do corpo é carregada semanticamente. Certo é que há um uso prolífero de variantes na cultura popular referente ao ânus. Eis os vocábulos que aludem ao referido órgão anotados pelo autor: bugueiro; bufante; broca; chicote; federal; fevereiro; farinheiro; felipe; pregas; regueira (região anal) e cuelho (o pelo do ânus).  
 
A coleta de Carvalho Déda é um documentário vivo e diversificado do folclore sergipano. É um registro de fatos folclóricos recomendados tanto ao estudioso das Ciências Humanas quanto àqueles que simplesmente têm curiosidade para conhecer uma parcela significativa do patrimônio cultural de nossa gente. Ou seja, esta recolha espera tanto a análise do especialista para tentar interpretar a cultura local e discutir sua identidade, quanto satisfazer o espírito daqueles que reconhecem a concomitante universalidade e especificidade dos traços da cultura sergipana.

Por fim, deixemos o eminente Câmara Cascado avaliar sinteticamente Brefáias e Burundangas do Folclore Sergipano: “Trata-se, evidentemente, de um livro útil, movimentado, bem brasileiro, dedicado às bases fundamentais e eternas do seu Espírito, a cultura tradicional do seu povo.” (p. 249).

* Mestre em História Social pela Universidade Estadual de Campinas; Graduado em História e Especialista em Geografia Agrária pela Universidade Federal de Sergipe; Professor do Instituto Federal de Sergipe - acneto@infonet.com.br.

** Doutor em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; e Mestre em Antropologia pela Universidade de Brasília; Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe; Professor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe - fjalves@infonet.com.br.

domingo, 13 de março de 2011

Centenário de uma história inaugural

Resenha do livro "História de Sergipe", de Felisbelo Freire (1858-1916), apresentada por Francisco José Alves durante reunião de estudos do grupo Defensores do Patrimônio Cultural Sergipano no dia 13 de março de 2011. Originalmente foi publicada em: Jornal da Manhã, Aracaju, 29 dez. 1991. Arte e Palavra, nº 15, p. 6.

FREIRE, Felisbelo. História de Sergipe. 2ª Ed. Petrópolis: Vozes, Aracaju: Governo do Estado de Sergipe, 1977. 416 p. (1ª Ed. 1891).


Por Francisco José Alves *

A História tem um papel fundamental na constituição da identidade de um povo. A construção de um passado comum, por meio da História, foi uma constante no processo de criação das nações ocidentais modernas. Mas não apenas as nações tiveram o seu cimento na História. Regiões e estados foram plasmados, muitas vezes, com o concurso do historiador. É bem este espírito que anima Felisbelo Freire ao escrever a sua História de Sergipe, em fins do século passado (1891). Como ele confessa, o seu objetivo é: “tornar Sergipe conhecido do País e do estrangeiro” (p. 9). Deplorando o esquecimento que teria sido vítima Sergipe na historiografia brasileira, Freire toma para si a tarefa de resgatar a História do estado, como entidade sócio-econômico e cultural singular. A trajetória do autor como militante histórico do republicanismo na então Província de Sergipe e a sua nomeação como primeiro governador republicano dão o tom do seu amor patriótico às terras Del Rey.

A História de Sergipe de F. Freire inaugura a historiografia científica do Estado. Até então tínhamos memórias e descrições. Com esta obra temos a primeira tentativa de interpretação científica da História estadual. Valendo-se do evolucionismo, paradigma científico hegemônico na época, Freire oferecerá uma síntese da evolução de Sergipe. O livro tem como limites cronológicos 1575 e 1855: das primeiras incursões dos jesuítas até a transferência da capital de São Cristóvão para Aracaju.
 
O livro está ordenado em quatro partes. Na “Introdução”, F. Freire apresenta as balizas teóricas da sua obra após fazer uma síntese sobre os primitivos do Brasil, sua composição étnica, o meio natural sergipano. “Época da formação (1575-1696)” descreve a conquista de Sergipe, a implantação da máquina administrativa, a invasão holandesa e as primeiras atividades de exploração. Dando continuidade cronológica à obra em “Expansão Colonial”, o autor elenca os episódios (administrativos, sobretudo) ocorridos entre 1696-1822. Compõe esta parte a descrição de Sergipe na condição de Comarca da Bahia, a expulsão dos jesuítas e o fim da escravidão indígena, a ressonância da Revolução Pernambucana de 1817 e, finalmente, o conturbado processo de autonomização política de Sergipe da vizinha Província da Bahia. “Política Imperial (1822-1855)” volta-se para os eventos políticos da Província desde a instalação da junta governativa provisória até a transferência da capital (pelo presidente Inácio Barbosa, em 1855).
 
Em que pese a declarada intenção do autor de forjar uma obra nos moldes da ciência histórica evolucionista da sua época, o que ele termina por fazer é uma narrativa centrada nos governantes e seus feitos. História de Sergipe é, assim, uma crônica do poder enfatizando, quase sempre, as figuras dos administradores: capitães mores, ouvidores e presidentes de província formam o eixo condutor da narrativa de Freire. Aqui um pouco sobre a economia, acolá uma pitada sobre a educação, demografia e sociedade.

Fica evidente um hiato entre a teoria, soi disant, esposada pelo autor e a economia narrativa e explicativa adotada ao longo da obra. Embora Freire tenha escrito que a “raça” e o “meio” “são as duas forças que dirigem a civilização humana” (p. 53) ou, mais enfaticamente, que estes dois fatores “são a causalidade mais geral de todos os fenômenos históricos” (p. 31), ao explicar os sucessos da história de Sergipe o autor apela quase sempre para fatores como “paixões”, “patriotismo”, “ignorância”, “obscurantismo religioso”, etc. e, muito raramente, para “raça” e “meio”. Configura-se um inequívoco descompasso entre a teoria proposta e a prática explicativa efetivamente adotada. Esta longe aqui de Capistrano de Abreu que postulava escrever uma história sem citar Tiradentes. Obviamente o historiador cearense nada tinha de pessoal contra o inconfidente. O que ele queria era criticar uma historiografia voltada para os heróis, para os feitos dos grandes homens, descurando as forças movedoras da história: a raça e o meio (consonante com o determinismo mesológico e racial da época). Também longe está de Euclides da Cunha que, fiel ao determinismo, põe em Os Sertões o homem como títere da “raça” e do “meio”.

O rol das forças motrizes da História de Sergipe é, para F. Freire, bipolarizado. De um lado, forças positivas que incrementam a “civilização”, o “progresso” e do outro, forças negativas responsáveis pelo “atraso”, a “degeneração”, a “discórdia”. No primeiro lado tem-se o “patriotismo”, o “civismo”, a “instrução” e, retrocedendo a história, tem-se a “religião”, as “paixões pessoais e partidárias”, “ambições”, “ódio”, “inveja”. Do confronto entre estas forças resulta o processo, o devir histórico. É de se notar que todos estes “motores” são na obra atributos pessoais e não raciais ou decorrentes do meio. Ao longo da história colonial de Sergipe, segundo F. Freire, a religião representou o principal fator de “atraso” ao passo que na fase imperial as “paixões pessoais” e partidárias tomam este papel. A história de Sergipe é configurada assim como teatro de paixões imoderadas e conflitantes.

Outro percalço apresentado pelo livro é representado pelas excessivas transcrições no corpo da narrativa. Quase metade desta é constituída de longas transcrições integrais de documentos localizados pelo autor. Lamentando a cada passa a escassez documental para a feitura da sua história, Felisbelo Freire é levado a oferecer ao leitor os seus achados preciosos. A intenção é boa porém o local é inadequado por desequilibrar a obra. O autor poderia dar vazão ao seu desejo de fornecer “provas” colocando estas transcrições em forma de apêndice (como faz aliás com um corpus de 218 cartas sesmarias).

Problemática é ainda a presença do autor na condição de Juiz, reprovando ou aprovando o comportamento dos agentes históricos. Esta postura judicativa, marcada pelo viés do positivismo anticlerical, leva o historiador a transformar os religiosos em verdadeiros vilões da história sergipana. Não se trata de postular a neutralidade do escritor da história, mas no caso em foco, Felisbelo Freire cai na rede das “paixões” que tanto deplorou nos outros.

Estas notações críticas não têm o objetivo de denegrir ou negar o valor e importância da História de Sergipe. Esta obra é, sem dúvida, um marco na historiografia sergipana. Primeira tentativa de interpretação científica da história do estado, primeira visão de conjunto da sua trajetória, reunião valiosa de documentos, manancial de pistas de pesquisa.

Creio que uma boa forma de celebrar o centenário desta história-matriz é analisando-a criticamente.



* Doutor em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; e Mestre em Antropologia pela Universidade de Brasília; Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe; Professor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe - fjalves@infonet.com.br.